Marlboro tem gosto de discórdia (e de nicotina também)

Sarah só queria comemorar o seu aniversário de 18 anos à meia-noite com seu primeiro cigarro na boca aceso, é claro que seria difícil praticar aquela proeza. 
Faltavam poucos minutos para meia-noite e ela estava procurando uma banquinha de jornais que estivesse aberta, porque de certa forma só um minuto depois das 23:59 ela podia legalmente comprar um cigarro. Ela havia rodado a cidade inteira (não de carro porque ela não tinha carteira) a procura de uma bendita banquinha de jornais que vendia maços de Marlboro, e claro que estivesse aberta aquela hora da noite.
Andando em uma rua um tanto quanto suspeita (e escura), uma luz fraca chegou ao alcance das sua pupilas e um pensamento de esperança surgiu em sua mente, então ela começou a acelerar o passo como se estivesse fugindo de algum cara suspeito de capuz que estava passando na rua (algo que naquela hora também fosse o motivo da correria pelo simples que realmente havia um cara suspeito atrás de si). 
Os batimentos cardíacos estavam se acelerando assim como os passos de Sarah (e do cara estranho atrás dela), faltavam apenas alguns passos pra chegar lá e ambos viram que a banquinha estava fechando as portas, aceleraram mais, até que os braços se agarraram na bancada do caixa e os lábios se mexessem ao mesmo tempo soltando um "Poderia me dar um maço de Marlboro?" com alguns ofegos.
A dona da banquinha encarou os dois por algum tempo, suspirou longamente encarou mais um pouco e disse:
- Desculpa, eu só tenho apenas um maço de Marlboro, mas se vocês quiserem eu tenho outras marcas.
Sarah negou com a cabeça, não, não não, seu irmão mais velho tinha lhe dito que Marlboro era a melhor marca de cigarros (não querendo fazer propaganda) os outros basicamente não prestavam. Sua mão apertou as notas e depositou seu RG na bancada do caixa, suspirou e disse:
- Eu fico com o maço de Marlboro, acredito que ele pode pegar outra marca.
O homem de capuz (que mais tarde Sarah descobriria se chamar Guilherme) arregalou os olhos aparentemente irritado, depois desviou os mesmos para o documento da moça reparando em algo.
- A menina nem fez 18 anos, ela é menor! Moça por favor, me dá esse maço.
-Eu faço 18 daqui... - ela conferiu o horário no relógio - dois minutos, então por favor acho que não vai fazer diferença desrespeitar a lei nesse caso.
A dona da banca estalou a língua no céu da boca, pensou por um, talvez dois segundos numa solução para aquele problema, ela podia sim vender dois maços de cigarro e lucrar mais com aquilo mas nenhum dos jovens estava disposto a sair dali com um maço que não fosse Marlboro.
-E se vocês dividissem o maço? Cada um paga metade. - ela disse com uma voz que sugeria generosidade e ao mesmo tempo impaciência.
Os dois pareceram pensar um pouco, a proposta não era tão ruim assim, mas e o orgulho que cada um guardava? Se encararam de forma mortal, o que fez a tia da banca soltar uma risadinha.
Sarah bufou, e suspirou, e fez uns barulhinhos com a garganta, cara, ela só queria um maço só pra ela pra que ela pudesse acender e cantar parabéns na frente dele como se fosse uma vela, porque agora ela ia fazer 18 anos e pessoas com 18 anos podem fazer esse tipo de coisa, mas ela ia pedir só mais um pouco, só mais um pouquinho porque ela queria gastar o seu dinheiro naquele maço, ia ser a primeira vez que ela fazia uma coisa dessas e ela simplesmente não podia comprar um maço pela metade.
- Por favor moço, eu tô fazendo 18 anos, então por favor me deixa comprar esse maço inteiro!
O moço analisou a garota com quase (quase mesmo) 18 anos e assentiu de forma silenciosa e o rosto dela ruborizou de emoção, com toda a felicidade do mundo ela colocou as notinhas no balcão e recebeu o seu precioso primeiro maço de cigarro .
Ela encostou do lado da banca, retirou o plástico que envolvia a caixinha e abriu o maço, tirou de lá um cigarro e comtemplou por alguns segundos, checou o relógio e faltavam alguns segundos para meia-noite. Colocou o cigarro na boca, acendeu o isqueiro e colocou-o na frente do cigarro ,sem acender, olhou o relógio e quando deu meia-noite acendeu o precioso primeiro cigarro.
Ela tragou com imensa facilidade como se tivesse feito aquilo diversas vezes, e sentiu a fumaça aquecê-la por dentro e o gosto não muito agradável da nicotina se espalhando pela sua boca.
- Uhum - o moço encapuzado que estava observando ela até agora se mostrou presente- eu te "dei' o maço, seria muito se você me desse pelo menos um cigarro? Desculpa, eu não aguento as outras marcas.
Sarah analisou-o de cima a baixo com sua cara de julgamento.jpg, tragou mais uma vez o cigarro, abriu o maço e estendeu pra ele, que pegou de bom grado e acendeu com um fósforo.
Depois de um tempo inalando aquele pedaço de toxinas Sarah foi a primeira dizer algo:
- Eu te dei um cigarro, posso ter a honra de ao menos saber o seu nome?
-Guilherme, o seu é Sarah né? - ela olhou pra ele incrédula, esse cara lia mentes? e percebendo a cara da garota ele continuou - vi no documento.
Uma cara de alívio percorreu seu rosto. Então eles continuaram uma conversa tipo aquelas que você tem com as pessoas no elevador, que se transformou em desabafos pessoais.
- Mas por que querer fumar no 18º aniversário? Sabe eu querendo me livrar do vício e você querendo entrar - disse Guilherme.
-Acho que é uma questão de provar que eu sou madura, sabe. Também sempre tive curiosidade, saber se é bom, ver a fumaça saindo da minha boca.
- Temos muito em comum, à três anos, quando eu tinha sua idade também pensava assim.
- Então você tem 21? - ela soltou uma risadinha junto com a fumaça do seu terceiro cigarro - você fala como se fosse muito mais velho - ela riu de novo.
- Quando você faz 21 um anos você se sente muito mais velho, boneca - ele soltou uma risada anasalada junto com uma baforada de fumaça.
E assim continuou a conversa, várias risadinhas, bastante fumaça e um maço de cigarro se acabando. Mesmo que a banquinha fosse lá onde Judas perdeu as botas, toda vez que Sarah ia comprar um maço de Marlboro ela ia lá com a esperança de encontrar a agradável dona da loja e quem sabe soltar mais umas risadinhas acompanhadas de fumaça com Guilherme. Acontece que ela nunca encontrava a banquinha, já esbarrou com o Guilherme e eles dividiram o maço dele mas nunca encontrou a agradável senhora e sua banca de jornais de novo, curioso né?
Ah e como eu sei de tudo isso? A resposta mais educada que eu posso te dar é: "Narradores nunca revelam seus truques."
Fim?

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