Postagens

Mostrando postagens de 2020

Efemeridade da vida

Que a vida é efêmera e que os seres se vão de um dia para o outro, muitas vezes sem dar aviso é algo de conhecimento geral. Você sabe disso e de alguma forma acha que ter conhecimento sobre isso deixa as coisas mais fáceis.  Você percebe que Não deixa, quando aquela existência colorida se torna cinza, quando aquele rock psicodélico vira uma música do Joji. Você podia questionar, mas você vê os olhos virados e o tegumento cinza. Você sacode, uma forma irracional de quem sabe provar que aquilo é uma mentira, não é.  Você sabe que as pessoas se vão, você sabe porque viu elas indo, mas nunca foi tão gráfico e tão real.  Você já tinha em mente que isso aconteceria, já se assustou com a ideia, já imaginou como você se sentiria quando acontecesse, já até achou que tinha acontecido, mas quando aconteceu foi diferente.  O começo veio com impessoalidade, a impessoalidade de sempre, então o quê? Veio a culpa? Veio a tristeza? Você não sabe direito, mas a realidade cinza bateu c...

Prólogo

Colégio Padre Anchieta - Dia 20 de Julho, 20:00 Garotas de vestido xadrez, com pintinhas no rosto e maria chiquinhas, os garotos de chapéu, calça jeans e botina. Festa junina era para ser um evento feliz, regado de risadas e do cheiro das comidas deliciosas iluminado por uma fogueira, era isso que todos da escola esperavam, não luzes dos carros da polícia e o som das sirenes ensurdecendo a todos. Poucas pessoas conseguiram ver o corpo e o estado deplorável dele, mas todos conseguiram vê-lo entrando no carro da ambulância, coberto por lençóis; ninguém ia perder a oportunidade de ver aquilo, naquela cidade pequena seria praticamente um fato histórico. O garoto prodígio da escola, assassinado no meio da festa junina. — Qual é? Para de mentir todo mundo desconfia de você. — sussurros eram ouvidos na parte de trás da escola. — Você sabe que poderia ser qualquer um. — Você diz isso para aliviar sua culpa? Você é declaradamente o "inimigo" dele, nemesis. Ninguém teria mais mo...

Vamos Fugir

Vamos fugir, Deste lugar, baby Vamos, vamos fugir. Pegar minhas malas, aquela caixa com todas as boas memórias que fica na última gaveta da escrivaninha, um pacote de chicletes, minhas partituras... Uma banda de maçã... aquele cd daquela... Outra banda de raggae... e o resto da sanidade que ainda me sobrou. Tô cansado de esperar Vamos, vamos fugir. Pra longe de preferência. Canadá? Não, prefiro a Austrália, nunca gostei do frio. Na verdade, não importa pra onde, contanto... Que você me carregue Vamos fugir  Pra onde quer que você vá Só vamos fugir, porque eu sei que não consigo ficar aqui.  Vamos fugir pra nunca mais voltar.  Vamos fugir  Eu não sei, tudo parece incerto. Talvez a gente não seja feliz, talvez a gente morra com os sonhos esmagados, mas eu sei que temos que fugir, fugir porque aqui a gente não tem chances.  Pra outro lugar, baby Talvez a gente nunca esqueça de casa, mas talvez não possamos mais chamar aqui de casa...

Vento

Ela era como vento.  Às vezes tão ausente que eu me sentia como se estivesse caminhando pelo deserto, em meio à secura e ao calor árido que fazia a pele coçar. Os dias sem a presença dela eram agoniantes, ela sumia sem rastro e sem esperança de voltar. Como uma brisa tímida ela me enchia de esperanças, como se eu tivesse saindo do deserto, às vezes por uma mensagem, dizendo que estava com saudades ela aparecia. Tão rependinamente quanto sua chegada, era sua saída; assim ela me deixava com a garganta seca na secura do deserto de novo. Como o entardecer no deserto ela aparecia como brisas, mandava mensagens mais frequentes, perguntava se podiámos nos encontrar, e eu tentava me agarrar aquela maré de ventos que acariciavam minha pele, ardida pelo calor. Nós encontrávamos, ela sempre com aquele olhar inocente, que tempos depois eu fui perceber que eram dissumilados. Ela se afastava, tímida, dizia que não gostava de contato, e eu respeitava.  Lá pela décima tragada forte...

Imprinting

E de repente tudo começou a fazer sentido, tudo mesmo. Você não se perguntava o sentido da vida porque agora você já sabia, o sentido da sua vida era ele, e sempre seria ele.  Como um clique, não era mais a gravidade que te prendia na Terra, era ele e seus olhos sorridentes e você sabia que a partir daquele momento nada mais importava, todas as preocupações de antes, subitamente pararam de existir. Ao olhar aqueles olhos brilhantes que pareciam sorrir, você sabia que ia ser capaz de nadar todo o oceano para que eles nunca perdessem o brilho, que seria capaz de matar e morrer para que eles continuassem sorrindo, que seria capaz do impossível para que ele fosse feliz; na verdade para você não existia mais o impossível quando o assunto era ELE. Logo a vontade de se aproximar dele era quase como uma força física, quase não, era uma força física; nada podia parar você de se aproximar. Você precisava dele para viver, na verdade você só vivia por causa dele.  Por um instant...