Fogo

Talvez você devesse gritar comigo.
Talvez você devesse dizer que me odeia. 
Talvez você devesse parar de falar comigo, me ignorar.
Talvez você devesse me odiar mais. 
Porque nós brigamos, gritamos e quase nos batemos. 
Um instinto primitivo mais forte que a sobrevivência queima dentro de nós. 
Depois de um tempo isso tudo deixou de ser só algumas discussões e desentendimentos para se transformar numa competição.
Tudo se acaba com um grito mais forte, com um chega, com um ignorando o outro ou com um bater de porta. 
Não há pedidos de desculpas. Eles existiam há muito tempo atrás, mas agora é só um passado distante.
O silêncio reina. Cada um no seu canto pensando em tudo. 
Tenho vontade de chorar de raiva toda vez que isso acontece. 
Tenho vontade de socar a parede, de me arranhar, de quebrar tudo; mas não sou tão impulsiva assim.
Eu respiro fundo várias vezes. Meu peito ainda queima.
Você senta na minha frente e me encara. Tenho certeza que meu olhar é vazio e indiferente.
Meu peito queima, sinto que posso cuspir fogo em você.
Espero minhas desculpas, mas sei que não vão vir, então espero gritos, mais xingamentos, espero que você só me encare e ignore minha presença. 
Eu quero que seu peito queime e você cuspa fogo em mim. 
Você não faz isso, você me olha e sorri. 
Sei que você não está bem, sei que seu peito também queima, mas eu acredito naquele sorriso.
Vamos ignorar tudo outra vez. 
Então eu te irrito de novo, grito contigo de novo, te xingo e quase te bato.
Talvez esse seja o único jeito de aliviar a combustão em meu peito.
Então talvez você devesse gritar comigo, talvez você devesse dizer que me odeia, talvez você devesse parar de falar comigo, me ignorar e talvez você devesse me odiar mais. 
Porque o único jeito de apagar esse fogo, é com a sua raiva.

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