Água

A primeira onda chegou divertida. A sensação era meio incômoda, mas nada que pudesse me afetar tanto. 
Eu ri. 
Ri porque não sabia das ondas que vinham depois.
Entrei mais nesse mar, as ondas que vieram depois me atingiram mais forte. Me atingiram no rosto e me deixaram sem ar, cobriram meu corpo e quase me afogaram, eram cruéis e agressivas; mas como a primeira elas se foram deixando o mar calmo.
Eu continuei rindo.
Era o mar, era lindo, era delicioso, era uma maravilha! Fodam-se as ondas, eu ainda tinha um pouco da calmaria.
Adentrei mais.
As ondas ficaram mais frequentes e mais agressivas. Eu passava mais tempo sem respirar, lutando para sobreviver do que apreciando o mar. Eu estava me afogando, mas eu ainda via beleza, porque quando as ondas paravam, não tinha nenhum lugar que eu preferia ficar.
Adentrei tanto que faltava apenas um palmo de água para eu imergir completamente.
As ondas eram intensas.
Eu não conseguia ver nada, nem respirar. Elas não paravam e não tinham piedade de mim.
Eu queria voltar pro início, para a areia.
Eu procurei por terra, não consegui achar. Tudo que eu via era água. Água que me fez ficar imersa. Água que me puxava e me empurrava. Água que tirava meu ar. Água que me matava. Água que desde a primeira onda estava me matando.
Eu me debati.
Não ia resolver. Não dava para fugir.
A água enchia meus pulmões, mas mais que isso: perfurava meu coração.
Senti mais uma onda, mais fraca dessa vez. Me lembrou a primeira.
Então eu soube que naquele momento, em que eu senti a água gelada em meus pés eu nunca deveria ter me aprofundado no mar que é você.

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